Razões para elaborar um projeto lavador de gases
Imprensa Publicado em 19/12/2024Nos últimos anos, a sustentabilidade tem se tornado um dos principais pilares para o desenvolvimento industrial. Nesse...
Por Ludmila Azevedo
A qualidade de vida e a saúde das populações em todo o mundo estão intimamente relacionadas ao saneamento básico, um pilar fundamental. Garantir o acesso à água potável e o tratamento adequado de esgoto é essencial para prevenir doenças e promover um ambiente saudável. Mesmo em pleno século 21, desafios significativos no setor de saneamento, como a falta de infraestrutura, poluição hídrica e gestão ineficiente dos recursos, ainda precisam ser enfrentados. E é nesse contexto que a tecnologia pode desempenhar um papel fundamental e impulsionar a evolução para o chamado “saneamento inteligente”.
Também conhecido como “smart sanitation,” o conceito refere-se à aplicação de tecnologias avançadas para melhorar a gestão e eficiência dos sistemas de água e esgoto. Essas tecnologias permitem a coleta de dados em tempo real, análises avançadas e automação de processos, tornando o saneamento mais eficaz, sustentável e orientado por dados.
Tecnologias e soluções inovadoras são muito necessárias no contexto brasileiro, para ampliar o acesso da população ao tratamento de água e esgoto de forma a que esses serviços possam chegar a todos, em todas as regiões – o que ainda não é uma realidade estabelecida no país.
De acordo com pesquisas da Agência Nacional de Águas (ANA), até 2030 a demanda pelo uso de água no Brasil deve aumentar 30%. Por isso, é urgente que outras formas de poupar ou reaproveitar o recurso sejam pensadas, para além de iniciativas mais recentes, como dessalinização da água do mar, captação e aproveitamento da água da chuva ou transformação de esgoto em água de reuso, por exemplo.
Um dos principais desafios a serem superados no Brasil é a perda de água durante o processo de tratamento. Segundo estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2022, a média nacional de desperdício de água – ou seja, o que é perdido no caminho entre a companhia de distribuição e as torneiras – é de 40%. “Isso quer dizer que, a cada dez litros de água tratados, quatro ficam pelo meio do caminho por diversas razões: ‘gatos’, que são os roubos de água, tubulações com defeito ou canos furados, por exemplo”, esclarece o levantamento.
A tecnologia tem o potencial de revolucionar o campo do saneamento básico, solucionando os problemas apresentados.
“A combinação de inovação tecnológica, políticas públicas adequadas e conscientização da sociedade pode levar a avanços significativos no acesso global ao saneamento básico.”, analisou o engenheiro Francisco Carlos Oliver, diretor técnico e comercial da empresa Fluid Feeder, na publicação “Saneamento Ambiental”.
A chamada Internet of Things (IoT) tem sido aplicada com sucesso no interior das Estações de Tratamento de Água (ETA) ou Estações de Tratamento de Esgoto (ETE). As plantas são equipadas com inúmeros sensores IoT, responsáveis por diversas funções distintas. Eles podem medir variáveis como o pH e a temperatura da água, a velocidade do fluxo, a integridade estrutural dos reservatórios e tubulações, o nível de água nos tanques e canos e o estado operacional de filtros e bombas d’água, entre outros aspectos.
No Espírito Santo, a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) anunciou, no início deste ano, um investimento de R$ 145 milhões no uso de uma nova tecnologia para reparar, substituir e implantar novas redes de água. Usando inteligência artificial, robôs percorrem a rede para detectar e solucionar vazamentos, evitando desperdícios.
“Atualmente, apenas São Paulo, Fortaleza, Bahia, João Pessoa e o Distrito Federal utilizam essa tecnologia”, disse o presidente da Cesan, Munir Abud, esclarecendo que a meta da companhia é reduzir o tempo de execução de reparos e o custo dos serviços, tendo em vista que são gastos cerca de R$ 40 milhões por ano na manutenção das redes, terceiro maior custo operacional da empresa.
O engenheiro civil e sanitarista Ricardo Franci, professor da Ufes, acredita que os recursos deveriam ser repassados a soluções mais eficientes que estão sendo desenvolvidas, a exemplo de uma tecnologia para desenvolver biocombustíveis a partir do esgoto.
“Um projeto realizado em parceria entre Cesan e Ufes propõe geração de energia alternativa a partir da matéria orgânica presente no esgoto sanitário, no lodo em excesso e na biomassa algácea, gerando água de reuso para fins produtivos e reduzindo emissões de gás carbônico. A Cesan, juntamente com uma pequena empresa capixaba chamada Fluir Engenharia Ambiental, tem um parque experimental de saneamento localizado dentro da Estação de Tratamento de Araçás, em Vila Velha, onde são testados e desenvolvidos esses novos processos. Essa busca por novas soluções existe – o grande desafio é fazer com que essas novas tecnologias se adaptem à nossa realidade, beneficiando o cidadão”, relatou o sanitarista.
Entre todas as oportunidades descritas pelos especialistas e institutos de pesquisa, um ponto de vista é unânime: para resolver a perda de água, promover a universalização e a eficiência dos serviços de esgoto, é necessária uma mudança significativa na estrutura do sistema de saneamento do Brasil. Isso implica a implementação de tecnologias inovadoras que previnem potenciais falhas ao prever emergências, viabilizando assim a correção de problemas antes que eles se agravem.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 222, de julho de 2024. Leia a edição completa do Anuário Verde sobre águas aqui